Jovens apostam em seus próprios negócios e fazem sucesso / Altia na Mídia

Jovens apostam em seus próprios negócios e fazem sucesso / Altia na Mídia

Por Angélica Moraes - 

Carreira profissional estável, um cargo no serviço público, casa própria e carro na garagem não são mais os sonhos dos jovens adultos de hoje. Homens e mulheres por volta dos 30 anos veem no empreendedorismo a independência e liberdade em um futuro mais desejável e que caiba em seus projetos de vida. Para alcançá-los, no entanto, não costumam medir esforços.  

Uma pesquisa de 2017 do Sebrae/IBPQ intitulada Global Entrepeneurship Monitor (GEM) revela que a participação de pessoas entre 18 e 34 anos no total de empreendedores em fase inicial cresceu de 50% para 57% no Brasil entre 2016 e 2017.  Hoje, quase 7 milhões de brasileiros entre 18 e 24 anos têm empreendimentos, seja em estágio inicial ou já estabelecidos.

Camilla Maria Lucena Albernaz tem apenas 17 anos e 15,1 mil seguidores no perfil no Instagram de sua loja virtual de lingerie, roupas íntimas, a Mahina Store. A loja surgiu há um ano, a princípio com maquiagens.

“Eu sempre tive vontade de trazer algo novo e meus clientes também queriam algo inovador”, conta Camilla. “Não tinha experiência com vendas, mas com atendimento ao público, pois fui estagiária durante um ano no fórum de Chapada dos Guimarães”, acrescenta a jovem. “Queria ter meu próprio negócio, mas ainda não havia me identificado com nenhum mercado. Quando comecei a vender foi bem difícil, pois não tinha tantos clientes, então tentei inovar ao máximo trazendo qualidade, preço e acessibilidade”, completa.

A jovem cursava Direito, mas o crescimento da loja e a falta de afinidade com a área fizeram com que optasse por suspender o curso. “Percebi que não era minha vocação e optei por jornalismo com foco em mídias sociais. Por conta da pandemia, vou começar o curso apenas no próximo ano”.

O universo da internet com uma infinidade de contatos e possibilidades é o principal, para uma grande maioria, o único canal de vendas de jovens empreendedores como Camilla. “Comecei a divulgar nas redes sociais e o negócio acabou crescendo muito e muito rápido. A venda é toda feita pelo site”, revela a estudante que diz que chega a lucrar até R$ 10 mil mensais. “A maior parte do dinheiro eu reinvisto para o crescimento da empresa”, ensina.

Visionária, Camilla busca um diferencial para fidelizar antigos clientes e conquistar novos, pois sabe que é preciso manter empreendimento em constante movimento. Ela conta traz peças exclusivas com tamanhos do PP ao XXG e faz outras sob medida, sem alteração no valor final. “Sabemos que hoje o mercado cobra mais que o dobro do valor para peças de tamanhos plus e menores que o tradicional. Uma bela lingerie aumenta a autoestima da mulher. Uma mulher plus ou uma mulher que veste PP também podem usar uma lingerie sexy”, ensina. “Recebo muitas mensagens de empoderamento de mulheres que nunca haviam encontrado lingeries com modelos exclusivos por um valor mais acessível. Tenho mais de 1 mil clientes espalhadas pelo país”, revela.

Empoderamento feminino também faz parte do comportamento e do trabalho da estudante Larissa Bassan, de 21 anos. A jovem empreendedora tem um bazar de roupas, Eye Candy e a loja de bijouterias em prata, Casa 925. O bazar de roupas foi o primeiro empreendimento, resultado de um processo de aprendizado e amadurecimento depois que a jovem retornou de um intercâmbio no Canadá.

“Convivi com pessoas mais velhas que eu, que comentavam sobre o medo do desemprego e o que iriam fazer quando voltassem ao Brasil. Quando eu voltei, essa questão também passou a me incomodar e, então, fui trabalhar em uma loja de acessórios. Foi uma experiência muito boa, mas percebi que faltava afinidade”, relata.

Por conta da faculdade de Direito, a jovem deixou o emprego na loja, mas passou a dar aulas particulares de reforço que ela classifica como uma “experiência incrível”. Também por causa dos estudos, Larissa parou de dar aulas e criou o primeiro negócio, o bazar Eye Candy. “Minha mãe sempre dizia que tínhamos muita roupa. Separei o que queria vender, tirei fotos e postei no Instagram. Achei que ia vender e ganhar muito dinheiro, mas ficou muito abaixo das minhas expectativas e eu desanimei um pouco, então decidi focar nos estudos”.

Segundo Larissa, a experiência na carreira jurídica, como estagiária, também não estava sendo satisfatória e ela decidiu retomar o bazar de roupas algum tempo depois. “Fiz vídeos, estudei estratégias e referências de empreendedorismo feminino e as coisas começaram a andar. Foi tomando a proporção que eu queria desde o início”, conta. “Comecei a fazer muita coisa legal e chegou uma hora em que 80% das roupas com as quais eu estava trabalhando eram de terceiros. Não tinha milhões de seguidores, mas tinha clientes fieis o que, para vendas no Instagram, é muito melhor”.

Agora, já experiente no assunto, a incansável jovem empreendedora toca outro negócio, a Casa 925, uma loja de pratas com a amiga de infância Maria Tereza Costa Pereira. “Esse já foi um trabalho muito mais fácil por conta da experiência com o bazar, usei erros e acertos como ensinamentos”.

Vontade de fazer o diferente foi o que levou Gabriela Peixoto Torres, de 21 anos, a abrir a Altia Podcasts Criativos, da qual é co fundadora. 

"Decidi empreender porque não estava satisfeita com a minha rotina de trabalho e, por mais que eu tenha trabalhado e feito estágio na área que eu gosto, a comunicação,  eu sempre observava coisas na cultura das empresas que eu gostaria que fossem diferentes. Também sentia que a criatividade e a humanização eram sempre secundárias", conta.

Após ter sido diagnosticada com síndrome do pânico e depressão, a jovem pediu demissão da empresa onde trabalhava para se dedicar ao que gostava. 

Na própria empresa, Gabriela desempenha múltiplas funções e diz que, até por conta disso, se tornou uma profissional muito mais segura que antes. 

"Hoje eu acredito muito mais no meu talento e criatividade, mesmo sendo jovem e mulher", frisa.

Planos para o futuro

 A realização pessoal é a maior motivação para os jovens empreenderem. Os planos de expansão dos negócios caminham de mãos dadas com o estar bem e, principalmente, ser livre e sem amarras.

“Eu penso que sou jovem e que tenho muito tempo pela frente e nada a perder pra ‘jogar a cara no mundo’ e fazer meu nome. Então eu acho que trabalhando cada vez mais agora, daqui a 2 anos eu terei estabilidade com uma empresa maior e até mesmo com uma loja física, além da expansão para outros países. Quero tornar a Mahina uma marca que represente acessibilidade com empoderamento de mulheres”, planeja Camilla.

Os planos de Larissa foram temporariamente interrompidos por conta da pandemia, mas o foco se mantém. “Prezo por um empreendedorismo moderno e verdadeiro, consciente em que a pessoa coloca sua identidade. Meus dois negócios são coisas nas quais eu acredito”, afirma. Minha realidade não é a mesma da minha mãe ou da minha avó e espero que não seja a mesma da minha filha. Acho que isso é graças à luta de muitas mulheres. Com essa pandemia vi que a gente não tem controle de nada, quero muito estar feliz no futuro, independente da minha situação financeira, estar em paz e me sentindo livre comigo mesmo e com a minha família. Daqui a uns dez anos eu quero estar feliz e livre, onde quer que eu esteja”.

Ensinar mulheres e jovens carentes a produzirem podcast está entre os planos de Gabriela. "É muito valioso mostrar para essas pessoas que elas podem ser ouvidas e podem produzir seu próprio conteúdo" , diz. Quanto aos sonhos, estar estável e emocionalmente feliz no ambiente de trabalho encabeçam a lista. 

"Acho que os jovens até buscam essa estabilidade material, mas ela é muito mais secundária. Existem prioridades nessa nossa busca como a estabilidade emocional. Por termos mais acesso à informação  queremos que as mudanças aconteçam mais rápido que os nossos pais", acrescenta. "Minha geração tem menos medo de mudar de ideia, por isso  pensamos mais a curto e médio prazo", finaliza.